O primeiro passo a ser dado é a retirada de distrações visuais que podem tirar a atenção do aluno. O excesso de imagens, informações e cores por todo o ambiente é capaz de desviar o foco do aluno perante o professor e o auxiliar, tardando o seu processo de aprendizado.
Algumas crianças podem ter uma necessidade de se mover de forma a permanecerem alertas. Caso isso aconteça, é aconselhável sentá-las no fundo da sala e ser flexível ao permitir que elas se movam. Outras tendem a se levantar enquanto estão realizando uma tarefa, é uma forma de se acalmarem e executar o que lhes foi proposto. Há aquelas que obtêm melhores resultados quando estão à frente do professor, e não ao lado, e existem outras que se saem melhor quando sentadas próximas a alunos mais quietos que não aumentam o nível de distração. Tudo depende de como cada criança reage ao estar próxima dos colegas de classe e do ambiente. Cabe ao professor e ao auxiliar reparar e fornecer o melhor cenário para o aluno autista. A cadeira colocada longe de corredores e passagens pode ajudar na focalização da atenção desses alunos.
A mesa inclinada pode ser uma boa opção para que não precisem se curvar a fim de enxergar ou escrever nos seus papéis. Seria de grande relevância prover alguns desses espaços de trabalho inclinados na classe para outras crianças também, de forma que a criança com TEA se sinta mais acolhida e próxima das outras crianças. Além disso, é uma forma de promover a interação entre os diferentes alunos, visando o desenvolvimento e o respeito mútuos.
No que diz respeito aos sons e barulhos que podem afastar o aluno em classe, pode-se colocar um carpete no piso e cortinas nas janelas que impeçam a entrada de sons externos. No momento de dar aula ou alguma atividade, algumas crianças prestam mais atenção quando o professor se mantém em movimento, outras quando esse está parado.
As lâmpadas fluorescentes podem distrair o aluno? Sim, o piscar dessas lâmpadas e o zumbido típico podem tirar a atenção do aluno com TEA. Nesse caso, a melhor opção é a troca pelas lâmpadas incandescentes. Se não for possível essa troca, pode-se deixar algumas luzes acesas enquanto outras apagadas, de modo a posicionar o aluno em uma dessas seções desligadas.
Mas como posicioná-las em sala de aula? para algumas crianças é mais proveitoso estar sentado na frente ou atrás da fileira, outras precisam de algo para segurar(como por exemplo a porta, ou algum objeto de afinidade). É de responsabilidade do professor observar a maneira mais confortável de se sentar o aluno.
A elaboração de atividades e jogos que envolvam pintar, escrever, massinha de modelar, apertar ou rolar algo pode desenvolver a propriocepção, sendo fundamental para o reconhecimento espacial do corpo, sua posição e orientação. Essas atividades, quando realizadas em duplas ou grupos pequenos, alcançam resultados ainda maiores. Caso o aluno tenha dificuldade para assimilar o tempo de duração das atividades, recomenda-se utilizar cronômetros ou até mesmo adesivos que mostrem quanto tempo ainda resta.
Quando trabalhando em uma atividade, o professor auxiliar pode celebrar o trabalho de outras crianças naquela atividade. Isso encoraja a criança com autismo a prestar mais atenção ao que as outras crianças na classe estão fazendo.
Mostre e compartilhe de formas variadas o quanto você aprecia o empenho social da criança. Comemore o contato visual, os contatos físicos gentis, a comunicação interativa, e a resposta às solicitações.
Outra forma de interação entre os alunos ocorre quando uma criança responsiva explica ao seu colega com TEA a matéria daquele dia, ou ainda quando estimula o ato de escrever em conjunto.
Respeite quando a criança disser não a uma atividade e pause antes de re-introduzir a mesma atividade, ou introduza uma a qual a criança se sinta motivada. Deixe-a ter autonomia ao escolher o que quer fazer em alguns momentos.
Se a criança se levantar para balançar, o professor e o auxiliar permitirão que ela o faça durante um tempo combinado para que ela possa fazer a sua autorregulação. Mas se ela for até a pia e abrir a torneira, alguém deverá lhe dizer calmamente e de forma padronizada que a torneira não é para brincar. Algumas crianças podem ter dificuldade para processar ao mesmo tempo múltiplos estímulos e isso pode afetar o seu comportamento.
Professores auxiliares tentam manter a criança com autismo sentada, é o que se observa na maioria dos casos. Ao contrário disso, permita que ela se levante. Dê a oportunidade de voltar ao seu assento antes que a próxima atividade comece. Pause e observe se a criança volta sozinha. Caso não volte a se sentar por conta própria, o professor auxiliar pode diretamente pedir a ela que o faça ou elogie o fato de que as outras crianças estão voltando aos seus assentos (trazendo a atenção da criança com autismo para o que as outras crianças estão fazendo), ou ainda, intencionalmente esperar que o professor principal verbalmente direcione a criança de volta para o seu assento.
Comemore quando ela pedir por ajuda, e seja capaz de fornecê-la um dos seguintes artifícios:
- Ofereça a resposta;
- Dê como referência as outras crianças, estimulando-a a realizar a tarefa;
- Mostre o professor como um exemplo;
- Incentive-a a resolver a questão sozinha.
QUAIS ATIVIDADES PODEM SER FEITAS A FIM DE ESTIMULAR AS HABILIDADES DE MOTRICIDADE FINA DA CRIANÇA?
- Proporcionar brincadeiras táteis – cozinhar / fazer jardinagem / fazer artesanato;
- Instigar os movimentos da mão e do braço: utilizar equipamentos grandes, brinquedos e jogos de tamanho gigante;
- Equipamentos como lápis e caneta de corpo maior diminuem a tensão muscular e são mais confortáveis para a escrita de longos períodos. Agarras também podem ajudar a fixar o lápis na mão do aluno, sendo usadas outras ferramentas como a moldura de papel cartão ao redor do texto para que ele possa focar no parágrafo que está lendo;
- Aumentar a estabilidade postural a partir do reforço dos ombros e quadris por meio de esportes que necessitam de rolamento de peso e trabalho contra resistência, natação, escalada, atividades de se arrastar ou engatinhar, fazer “carrinhos de mão”, barras do tipo trepa-trepa, etc.
- E no desenvolvimento das Habilidades de Motricidade Grossa?
- Jogos e atividades de movimentos em diferentes posições – caminhar/correr/engatinhar/rolar - em uma variedade de ambientes; estruturas de escalada enfatizando movimentos espontâneos em vez de habilidades aprendidas;
- Realize atividades de sopro, como soprar tintas, canetas e canudos, pois promovem tanto a estabilidade postural como o controle visual.
- Para a manutenção do equilíbrio, são indicadas:
- Experiências de movimentos espontâneos sobre superfícies desiguais;
- Brincar em balanços do parquinho escolar.
INTERVENÇÕES EDUCACIONAIS ESPECIAIS
- Ensino de tentativas discretas (DTT) ou o Modelo de Lovaas:
- Ensino a partir do uso de lembretes que são sucessivamente eliminados conforme o progresso do aluno
- Cada aluno atinge um certo nível de resultado, e todos devem receber elogios e reforços positivos significantes para cada criança, mantendo a motivação para cada próximo passo
- Floortime ou Modelo de Diferenças de Relacionamento (DIR):
- O objetivo deste modelo é que o professor/adulto ajude a criança a expandir seus círculos de comunicação – incorpora-se isto à atividades lúdicas
- A máxima está em focar no desenvolvimento do interesse no mundo, na comunicação e do emocional, deixando a criança liderar cada passo do desenvolvimento
- Sistema de Comunicação por trocas de Figuras (PECS):
- Sistema simples que permite a criança que possui deficiência na habilidade verbal se comunicar a partir de figuras
- Um adulto ajuda a criança a construir um vocabulário pelo uso de figuras
- O próximo passo é ensinar a criança a trocar as figuras por objetos; assim a criança começa a diferenciar imagens e símbolos e inicia a formação de frases
- O reforço verbal do adulto é importante, assim a comunicação verbal acaba sendo incentivada
- Tratamento de Resposta Pivotal (PRT) – Baseado no ABA:
- É baseada numa intervenção dirigida ao aluno/criança que se concentra na crítica – assim há um direcionamento para ela e as mudanças positivas em seus comportamentos aparecem
- É importante ressaltar que as críticas devem ser construtivas e baseadas no respeito e na empatia
- Intervenção de Desenvolvimento de Relacionamento (RDI):
- Esse método procura dar melhoria a qualidade de vida da criança a longo prazo, ajudando-a com melhorias em suas habilidades sociais, adaptação ao ambiente, autoconhecimento, etc
- Suporte de Comunicação/Regulação Emocional/Transacional Social (SCERTS):
- Esse método se utiliza de outros métodos (PRT, TEACCH, Floortime e RDI) e os aplica de forma espontânea no cotidiano da criança, tenta priorizar as habilidades funcionais e relevantes para a vida desta
- Utiliza a técnica de fornecer uma variedade de parceiros à criança
- Favorece o aprendizado com e de crianças que fornecem bons modelos sociais e de linguagem em contextos exclusivos, na medida do possível
- Treinamento e Educação de Autistas e Comunicação Relacionada de Crianças Deficientes (TEACCH):
- Usa o Ensino Estruturado, um processo que se direciona a unir a força relativa e a preferência pelo processamento da informação visual pelas pessoas autistas
- Considera as dificuldades reconhecidas pela pessoa
- Usa da avaliação individualizada e planejamento – assim há a criação de um ambiente estruturado (organizado visualmente) para ajudar na esquematização individual do espaço e na independência do indivíduo
- Comportamento Verbal (VB) – Baseado no ABA:
- É arquitetado para motivar a criança a desenvolver a linguagem verbal a partir da união da palavra e do seu valor
INTEGRAÇÃO SENSORIAL NO ESPECTRO DO AUTISMO
- A integração sensorial refere-se aos processos de organização cerebral que organizam a recepção de informação sensorial e expressam respostas adequadas ao conjunto de estímulos
- As crianças no espectro geralmente precisam receber estímulos sensoriais por mais tempo que uma criança fora do espectro – exemplos: bater palmas, pular com as pontas dos pés, ranger os dentes – tudo isso para que a organização cerebral se efetive
- O maior problema que essas crianças enfrentam é que esses comportamentos autoestimulatórios muitas vezes são considerados “inapropriados” perante a sociedade
- No passado, diversas estratégias foram usadas para eliminar esses comportamentos (desde amarrar as mãos da criança até a “terapia” de choque); versões mais modernas não são tão extremas mas a filosofia de eliminar ou interromper esses comportamentos continua a mesma – na totalidade, essas terapias são em nome de uma “normalidade social”
AUTISMO E O TRANSTORNO DO PROCESSAMENTO SENSORIAL
- Características de uma pessoa com TEA (Transtorno do Espectro Autista): baixa comunicação social e emocional, comprometimentos com a comunicação verbal e não verbal, alterações na sensibilidade aos estímulos sensoriais. – Estas podem ser de variados níveis, dependendo do grau em que o espectro se manifesta
- TPS (Transtorno do Processamento Sensorial): refere-se a uma desorganização no processamento sensorial e desta forma, ele ocorre de uma forma inadequada
- As crianças podem ser hipersensíveis (possuem a sensibilidade maior que a normal em relação a estímulos externos) ou hipossensíveis (possuem a sensibilidade menor que a normal em relação a estímulos externos)
- Ao observar esses comportamentos, a terapeuta ocupacional Dra. A. Jean Ayres fundamentou o método a partir do funcionamento do sistema nervoso central e da forma como ele recebe e organiza diversas informações externas e destacou sobre o processamento sensorial em crianças com TEA:
- Estímulos sensoriais não são registrados adequadamente
- Estímulos percebidos não são modulados de forma correta pelo sistema nervoso central – como principais: estímulos sob o equilíbrio e táteis
- Inabilidade em integrar todas as sensações do ambiente e por conta disso, falha na percepção espacial e dificuldade de se relacionar com o ambiente
- Comportamentos sensoriais comuns em crianças com TEA: correr de um lado para o outro, se balançar, não tolerar o toque, ter a necessidade de manter objetos na mão, seletividade alimentar, baixa tolerância a diferentes texturas, baixa tolerância a ambientes com muita informação sensorial visual e auditiva (ex.: o recreio nas escolas, shoppings, shows, festas de aniversários – situações que envolva grandes aglomerados de pessoas)
- Por conta disso o profissional deve identificar as funções dos comportamentos da criança e entender quais as suas necessidades a partir das situações vivenciadas – ex.: diminuir barulhos, ruídos, não abraçar, não tocar excessivamente, diminuir estímulos visuais – é exclusivo para cada criança
COMO TRABALHAR O SISTEMA SENSORIAL NO AUTISMO?
- A melhor maneira de se tratar é com uma equipe multidisciplinar (fonoaudiólogos, professores, psicólogos, médicos, terapeutas ocupacionais, família, amigos, etc) – desta forma, se abrange todas as esferas da criança autista, melhorando integralmente sua qualidade de vida
- Não se deve tentar eliminar os comportamentos sensoriais da criança, desta forma só se causaria estresse à ela e ao adulto
- A melhor sugestão é: interagir da forma que entender a mais correta com a criança – brincar com ela, conversar, contar histórias, entender o seu mundo e qual é a melhor forma de se comunicar com ela
- Com paciência e informação, lidar com as crianças se torna uma tarefa mais fácil e prazerosa para ambos os lados
- É importante ressaltar a procura de especialistas para o tratamento mais adequado aquele indivíduo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
https://www.inspiradospeloautismo.com.br/wp-content/uploads/2013/11/O-Estilo-Responsivo-para-Crianc%CC%A7as-com-Autismo-na-Escola.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao_civel/Manual_para_as_Escolas.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao_civel/aa_ppdeficiencia/aa_ppd_autismo/aut_diversos/Cartilha-AR-Out-2013%20-%20autista%20na%20escola.pdf
https://www.inspiradospeloautismo.com.br/a-abordagem/atividades-interativas-para-pessoas-com-autismo/integracao-sensorial-para-autismo/
http://amaoeste.com.br/blog/5-autismo-e-o-transtorno-do-processamento-sensorial
http://entendendoautismo.com.br/artigo/como-trabalhar-o-sistema-sensorial-no-autismo/
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